sexta-feira, 9 de junho de 2023

Regina


Por todo o tempo em que a eternidade existir...

E entre evoluções e revoluções...

Caminhos e descaminhos...

Alvoradas e crepúsculos...

O estado natural de todas as coisas em mim será sempre você...






quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Quinze para a meia noite


 O céu estava estranho. Ele estava definitivamente muito estranho. Ninguém diria que tudo começou com aquilo que chamaram erroneamente de aurora boreal. O Brasil fica no hemisfério sul, portanto, o termo que chegaria mais perto de algo correto seria aurora austral, mas isso pouco importa. O que importa é que naquela noite de 2 de março de 2023 próximo da meia noite o céu noturno estava estranhamente belo. Até onde se podia ver no horizonte haviam luzes nas mais variadas cores. Tons de verde e de azul encantadores misturados com muito mais cores.

As pessoas saiam na rua. Os mais tímidos, ou mais desconfiados viam pela janela um céu jamais visto antes por estas bandas. Alguns estavam maravilhados. Outros achavam que era o fim dos tempos mas ambos concordavam que era muito estranho.

Quando o relógio marcou quinze para meia noite houve um estrondo. Um barulho muito alto. As pessoas distraídas foram pegas de surpresa. Muitos desmaiaram com o susto e aqueles que conseguiram ficar em pé sentiram muita tontura. As pessoas não entendiam direito o que estava acontecendo e isso só piorava com a temperatura que parecia aumentar ainda mais. Noite quente, luzes estranhas no céu um barulho estrondoso. Esta seria uma receita perfeita para o início de uma lenda urbana se tivesse ocorrido em uma cidadezinha do interior, mas não, descobriu-se tempos depois que estes eventos haviam ocorrido em todo o pais. Delírio coletivo? Poderia até ser, não fosse as mas as diversas fotos e vídeos deste começo de cataclisma trocados num ritmo alucinante pelas redes.

A internet surtava e no noticiário da TV não havia outro assunto até que de repente tudo parou. Os telefones não funcionavam mais e as televisões ficaram sem imagem.

Era mais ou menos meia noite e 20 quando o céu de súbito voltou ao normal. Bem, não tão normal assim. Era noite e as estrelas estavam lá brilhando, mas elas estavam todas lá. Era um céu estrelado como nenhum outro. Muito belo.

As pessoas até tiravam fotos mas ainda não conseguiam postar nas redes sociais ou enviar para os outros. Nada funcionava naquela noite tão diferente.

Muitos ficaram acordados para ver se algo mais aconteceria, mas a maioria foi dormir afinal de contas era madrugada de 3 de março. Uma sexta-feira. Muitos tinham que acordar cedo para trabalhar.


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A manhã de 3 de março se mostrou ainda mais estranha que a noite anterior. Nada tecnológico funcionava. Aparelhos eletrônicos até funcionavam mas não se conectavam na rede. Os semáforos das granes capitais piscavam praticamente todos no amarelo. O GPS não funcionava, a internet não funcionada, o sistema bancário não funcionava. As pessoas se viram novamente na década de oitenta do século XX.

Ir trabalhar estava difícil. Muito atraso nos ônibus e no metrô. Muita aglomeração nos pontos de ônibus e nas estações e nessas aglomerações haviam basicamente dois assuntos. O apagão da internet e a aurora no céu noturno na noite passada.

Assim passou o dia todos. Muita confusão e muita desinformação. A noite as televisões voltaram a funcionar Havia uma mensagem do governo passando em todos os canais. A mensagem era falada pelo presidente da república e dizia o seguinte: "Povo brasileiro. Na noite passada tivemos um evento meteorológico incomum seguido da quedas das redes de informação. Este evento, até onde pôde ser avaliado ocorreu em todo o país. Estamos tentando contato de diversas maneiras com outras nações mas não estamos obtendo sucesso. Acreditamos que o mesmo que ocorreu conosco aqui no Brasil tenha ocorrido com nossos vizinhos. Estamos ainda levantando impactos. Assim que tivermos maiores dados sobre o ocorrido voltamos a informar a população'.

A mensagem em si era pouco esclarecedora e para falar a verdade serviu apenas para causar mais pânico na população que naquele momento passou a acreditar num cataclismo a nível mundial.

Muitas pessoas preocupadas mantiveram as televisões ligadas aguardando novas mensagens mas isso não ocorreu. Não naquela noite.


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Passava das 10 horas da manhã de 4 de março. As televisões ligadas voltaram a apresentar a programação das emissoras, mas o assunto era um só, o apagão que permanecia no Brasil. Muitos repórteres tentavam explicar o ocorrido. Hipóteses cientificas eram levantadas, mas o fato é que ninguém sabia de nada.

Em um desses canais de notícias estava passando uma reportagem que parecia ter saído de um filme de ficção científica. Em cima da ponte da amizade em Foz do Iguaçu uma repórter com voz trêmula apenas repetia: "Não tem nada do outro lado. Não tem nada do outro lado da ponte". O operador da câmera filmava um floresta sem fim do outro lado da ponte. Era algo surreal o que se via. O Paraguai simplesmente havia deixado de existir.


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A tarde, os telefones voltaram a funcionar apenas para ligações. Nada de internet. As ligações falhavam muito. Talvez por um congestionamento das redes devido ao alto volume de chamadas que passou a ocorrer. Natural que isso acontecesse. As pessoas queriam afinal de contas ter notícias de seus familiares e amigos e as redes sociais bem como aplicativos de mensagem ainda não estavam disponíveis. Curioso ver como uma sociedade tão dependente da conectividade desmoronou literalmente da noite para o dia. Curioso também foi ver como a televisão voltou a ser o centro da atenção. Nela, ocorria um verdadeiro show de horrores. Diversas reportagens pipocavam em todos os canas. Equipes de repórteres nas cidades que faziam divisa entre o Brasil e outros países mostravam a mesma coisa. O nada.

Eram quilômetros e mais quilômetros de mata do outro lado da fronteira. Nenhum vestígio de civilização. 

A população olhava pela tv incrédula. Não conseguiam encontrar uma explicação plausível para aquilo que estava acontecendo.


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Uma onda de revolta começou a ocorrer. Aqueles mais conspiracionistas acreditavam que era um golpe do governo alterando as imagens na televisão de modo a poderem controlar o povo. Outros entendiam que algo de muito errado e de muito misterioso estava acontecendo. O fato é que já era 05 de março. Três dias depois daquela noite estranha e Brasília estava um caos. Depredação, saques, e suicídios. A situação não era muito diferente no restante do país. O ser humano frente ao desconhecido costuma ter reações das mais variadas e por vezes as mais perversas.

Havia um mundo de gente na praça dos três poderes. Tudo era muito novo e estranho e perturbador mas o pior ainda era o silêncio do governo. A turba gritava palavras de ordem, levantavam cartazes, entoavam pai nossos e ave marias. Nada parecia sensibilizar aqueles que deveriam saber de algo.

A esta altura muitos aviões já aviam sobrevoado o que era a Argentina, Bolívia, Uruguai. O cenário era sempre o mesmo. Estávamos sozinhos nossos vizinhos haviam sumido.

Meio dia em ponto todos os canais voltaram a mostrar um novo vídeo do governo. A imagem do presidente com olheiras e abatido denotava noites de sono mal dormidas e estresse excessivo. Ele começou a falar num tom fúnebre: "Povo brasileiro, venho até vocês sem um roteiro escrito, sem um script. Nós estamos vivendo uma verdade que até mesmo eu, com toda a informação que tenho, custo a acreditar que seja verdade. Todos os países no continente americano desapareceram. Sobramos apenas nós. Nossos peritos da aeronáutica conseguiram imagens de satélite que comprovam isso. Imagens da Europa e da Ásia mostram evidências de civilizações feudais com povoados existindo onde antes haviam países desenvolvidos. Não sabemos como explicar isso mas é certo que voltamos no tempo. Isso é comprovado através da cartografia. O posicionamento das estrelas estão diferentes da de alguns dias atrás. É como se tivéssemos voltado cerca de seiscentos anos no passado.

Sei que algo chocante e difícil de de aceitar mas estou aqui apenas falando a verdade sobre o que sabemos até agora. Aparentemente a aurora austral que aconteceu na noite de 2sde março seguida do estrondo tem relação com este ocorrido.

Não sei como chegamos aqui ou como sairemos dessa, se é que há uma saída. O que sei é que como nação precisaremos mais do que nunca estarmos unidos para vencermos isso.

Deus costuma agir de maneiras misteriosas. Prefiro neste momento me agarrar a minha fé e pensar que ele tem um plano para nosso povo. Voltaremos a informar todos vocês assim que tivermos novos dados."

E com essa mensagem o governo implodiu toda a sociedade.



quarta-feira, 7 de setembro de 2022

O homem deve ou não pagar a conta?

O mundo é feito de polêmicas. Essa talvez seja uma das grandes verdades da vida. Recentemente li uma reportagem sobre um ator famoso que afirmou sempre dividir a conta com a mulher com quem ele estiver no momento.

Achei curiosa a celeuma que se deu em cima desta declaração. Algumas pessoas defendiam, outras atacavam a opinião deste ator. O fato aqui é que tamanha discussão não levou a lugar algum. As pessoas são livres para pensarem e agirem como bem entenderem, correto?

Bom, a coisa aparentemente não é tão bem correta assim. A forma como nós pensamos é moldada por uma serie de fatores. Todos eles externos e que vão desde a educação que recebemos, bem como todas as interações humanas que tivemos com os outros, passando pelo ambiente e pelo período em que vivemos.

Dito isso, a declaração do ator, na minha opinião, nada mais é do que o retrato dos tempos modernos em que vivemos.

Sobre minha opinião? Digamos que não discordo dele, mas devo admitir que em toda minha vida tomei decisões diametralmente divergentes a dele.

Para instigarmos esta discussão gostaria de começar com uma pergunta bem simples mas que pode vir a ter uma difícil resposta: 

O que é ser homem?

Homem Raiz

O conceito de homem foi estático durante muito tempo, mas atualmente tornou-se flexível, maleável, algo menos, com o perdão do trocadilho, "rígido". Este talvez seja o motivo pelo qual encontramos hoje em dia, garotos de quarenta anos de idade que querem curtir apenas sem se envolverem com nada, com relacionamentos superficiais, ligeiros e sem intensidade. Vendo por esta ótica, de fato não faz sentido pagar a totalidade da conta. Melhor rachar.

Contudo, e voltando a questão do que é ser homem, me parece que a melhor maneira de se responder a esta pergunta não é observarmos o comportamento destes novos - ou as vezes nem tanto - garotos, mas sim o comportamento dos considerados velhos machos e principalmente o que as mulheres em geral esperam de um homem.

Muitos talvez estejam pensando neste momento: "Olha aí mais um homem feministo!". O que posso dizer é que estou longe destes neologismos e radicalismos, contudo, acredito que como seres sociais nos moldamos através de conceitos e relacionamentos.

Entendo que é senso comum que uma mulher queira um homem viril e que a deixe sem fôlego, mas este comportamento ela provavelmente espera dentro de quatro paredes. Fora do quarto ela com toda certeza quer se sentir protegida por este homem. Ela quer sentir que dentre os bilhões de mulheres que existem na face da terra aquele homem escolheu cuidar dela e tão somente dela.

Este desejo feminino sempre foi ao encontro de como a sociedade, de uma forma geral, ditou a maneira como um homem deveria ser. O homem deveria ser o provedor da família. Ele deveria ser o protetor. Aquele que resolve os problemas. É exatamente por isso que a ele era atribuído o título de chefe da família. Os entes sentiam-se seguros em saber que sempre haveria alguém para solucionar o não solucionável.

Eu vim desta velha escola. Apesar de não ser de dar flores, sempre paguei a conta. Era algo que de certa forma trazia para mim uma carga de masculinidade, de proteção, de cuidado, e de educação.

Homem Moderno

Na minha concepção, ser homem é ser cordial, polido e cavalheiro, ainda que o encontro não tenha sido lá essas coisas. Ainda que a mulher não tenha proporcionado momentos sublimes e intensos, ou ainda que a conversa e a companhia daquela mulher não tenha sido simplesmente boa. Ser homem, por todas estas coisas é ser o melhor macho, não apenas no sentido sexual da coisa mas em muitos sentidos diversos.

Atualmente - e aqui percebo que estou ficando velho - ocorre um descolamento entre o sexual e prazeroso e as demais qualidades masculinas. A satisfação momentânea e por diversas e diversas vezes - e se possível com diversas e diversas mulheres - dita o que é ser homem. Neste sentido reafirmo aqui. Melhor dividir a conta mesmo.

A luz no fim do túnel é saber que a vida cursa em ciclos e eque estamos vivendo mais um. Longe das discussões acaloradas tudo vai seguindo. Quem sabe num futuro a briga seja para que a mulher pague toda a conta... Vamos tocando o barco. 


terça-feira, 4 de agosto de 2020

Sobre profissionais, sobre amadores e sobre aproveitadores



A um pouco mais de dois anos minha vida mudou um bocado. Comprei um apartamento e passei a morar sozinho. Queria estar mais perto do trabalho e mudar um pouco a vida que estava assim meio mais ou menos, apesar disso não ser algo necessariamente ruim.
O fato é que o ato de querer ter e manter um lar vem se mostrando um caminho tortuoso e espinhoso ao menos para mim, não pela escolha que fiz em si, mas pelas pessoas que dependemos para realizar esse querer.
Tais pessoas classifico em três tipos: os profissionais, que são poucos e raros, os amadores e os aproveitadores.
A história toda começa pela pesquisa para a compra do apartamento. Existem corretores que só conversam pelo whatsapp com você. Existem corretores que tem um texto pronto referente ao imóvel. Existem corretores que se você não tiver o dinheiro da entrada, ainda que tenha um fundo de garantia considerável (meu caso) simplesmente encerram a negociação ali mesmo.
De todos os corretores que conversei, e foram muitos, apenas um de fato conhecia o imóvel que estava vendendo e sentou comigo para explicar taxas, documentos e formas de financiamento. Uma pena não ter gostado do imóvel. Hoje sei que teria sido melhor atendido por ele do que fui pelo corretor com quem fechei o negócio. Este último me apresentou o imóvel que moro hoje. Foi amor a primeira vista. Gostei do acabamento e do lugar, mas queria o andar mais alto. O corretor havia me dito que já estavam todos vendidos. Resolvi fechar o negócio e pedi para ele me avisar acaso alguém desistisse do apartamento mais alto. As obras estavam aceleradas e o prédio seria entregue em cinco meses. Ligava constantemente peguntando se havia surgido uma oportunidade de eu mudar minha compra mas a resposta era sempre a mesma. Não.
Eis que chegou o dia de assinar a papelada do financiamento e receber as chaves. fui avisado com uma semana de antecedência. Resolvi tentar mais uma vez mas a resposta foi outra negativa. Assinei o contrato. Estava feliz com a aquisição até o momento que o construtor me informou que tinhas quatro unidades nos andares superiores a venda ainda. Em resumo, por preguiça ou sabe-se lá o por quê o corretor não correu atrás para fazer uma venda melhor para mim.
Resolvi então mobiliar. Queria tudo planejado. Encontrei uma marcenaria perto de casa. Os materiais que eles usavam pareciam ter uma boa qualidade e o preço era bom. Fiz o projeto e para mim estava tudo perfeito, porém, a marcenaria tinha pego serviço demais. A montagem dos meus móveis atrasou. Discuti várias vezes com o dono da marcenaria que sempre dava novos prazos e não os cumpria. Ele resolveu então contratar marceneiros freelancers. A equipe que veio fazer a montagem chegou com as madeiras todas cortadas nas medidas do projeto, contudo, o projeto havia sido feito todo errado. A cozinha estava errada, o quarto de casal estava errado e o rack da sala também estava errado. O pessoal que veio montar conseguiu fazer ajustes no quarto e na sala, mas na cozinha não teve jeito. Fui brigar de novo com o dono da marcenaria, que foi brigar com o projetista que descobri se recém contratado e que na verdade sequer projetista era. Tratava-se de um ajudante de marceneiro que ganhou um notebook com o software de projeto do trabalho anterior e fuçando aprendeu a desenhar um pouco. Foi o bastante para se vender como projetista no mercado de trabalho. Moral da história, os móveis demoraram demais para ficarem prontos e eu passei muita raiva.
A pedra da pia foi encomendada em uma marmoraria indicada pelo suposto projetista da marcenaria. O instalador da pedra veio com um ajudante. Ambos de bermuda e chinelo nos pés. Sei que um livro não se deve julgar pela capa, mas aqueles dois se mostraram ser a exceção da regra. A pedra da pia foi instalada mas eu pedi para não instalarem o rodapé porque o senhor que viria instalar a tubulação de gás do cooktop e do forno usaria a parte de baixo dos móveis. Assim que ele instalasse, agendaria um novo dia para virem instalar o rodapé. O instalador começou a reclamar que ganhava pouco e que se fosse para vir em outra data eu teria que pagar a parte para ele. Tive que ligar para o dono da marmoraria para resolver esse assunto. A instalação ocorreu como eu pedi em outra data. Até hoje não entendi o que esse instalador quis com esse assunto de pedir dinheiro para retornar. Eu não o contratei, eu contratei a empresa para a qual ele trabalhava.
Comprei as torneiras da pia da cozinha e do banheiro bem como os sifões e metais do banheiro. Minha vizinha do apartamento da frente indicou um encanador. Liguei para ele e pedi para vir instalar. Ele não me passou preço porque disse que precisaria avaliar no local o serviço que teria que ser feito.
Ele chegou de bicicleta. De novo, repito que um livro não deve ser julgado pela capa, mas mais uma vez consegui encontrar uma exceção a regra. Ele olhou os materiais e de pronto disse: "seiscentos reais". O encanador argumentou que seiscentos reais era o seu dia de trabalho. Achei um absurdo aquilo. Disse que achei muito caro e que procuraria outro. Ele então fez uma contraproposta no valor de quinhentos reais. Achei um absurdo de novo, peguei a calculadora do celular e fiz uma conta básica. Seiscentos reais vezes vinte e dois dias trabalhados em um mês daria um salário de treze mil e duzentos reais. Eu com duas graduações na universidade e trabalhando em uma multinacional não ganhava nem metade disso. Com um salário desses era para ele vir instalar torneiras de Ferrari e não de bicicleta. O encanador aparentemente entendeu o absurdo do preço que ele pediu e instalou tudo por cento e vinte reais. Não sei em que mundo ele estava ao pedir esse valor.
Recentemente, pedi para instalar internet aqui em casa. A operadora enviou três equipes para tentar passar o cabo mas não conseguiram, os conduítes estavam entupidos. Estou a mais de vinte dias aguardando o técnico que a construtora vai mandar e até agora nada. Ligo, cobro, passo mensagem e simplesmente não vem ninguém aqui. Nesse ínterim, resolvi ligar para uma outra construtora que faz reformas. De repente mandavam alguém aqui mais rápido. Pegaria a nota fiscal e faria a construtora daqui me ressarcir. Agendei a visita de um engenheiro para hoje a tarde, mas como azar para mim é besteira, esse engenheiro não veio e não ligou para dizer o motivo.
Para finalizar esse breve relato, vi que há uma outra marcenaria ainda mais perto da minha casa. Como estou trabalhando de casa e uso a mesa da cozinha como escritório, resolvi fazer no quarto de solteiro uma mesa para computador. Fui nesta marcenaria. O atendimento foi bom. O dono anotou meu contato e informou que mandaria mensagem para agendar a visita e medição do local para o projeto da mesa. Faz cinco dias isso e até agora nenhum contato.
Pelo relato parece que sou azarado ou que não sei escolher profissionais para fazer serviços para mim, mas não se trata de nem uma, nem outra coisa. Trata-se de pessoas que inventam de serem empreendedoras sem terem compromisso nenhum com cliente, com qualidade, com prazo ou com expectativa. São no melhor dos casos amadores e no pior aproveitadores. O mais triste é que os bons profissionais são minoria. Trabalhar com prazo, ter satisfação com o que se faz, zelar pelo próprio nome da sua empresa ou ter funcionários que zelam por ele é cada vez mais raro. Minha experiência nesses últimos dois anos vem me mostrando o quanto o jeitinho brasileiro estragou a sociedade como um todo. O reflexo está aí, maus profissionais descomprometidos, enganadores, oportunistas e sem respeito. Aqui é a selva onde o cliente não tem razão. Somente paga e passa raiva. 


quinta-feira, 14 de maio de 2020

Guava Island




Fazia tempo que não assistia a um filme tendo aquela sensação boa de surpresa. Sem ficar fuçando no celular bem no meio da apresentação.
Guava Island (2019) apresenta a história de amor entre Deni e Kofi numa ilha com um sistema totalitário onde todos trabalham para uma única empresa. Existe uma segunda relação de amor entre Deni, a música e a liberdade representada pela forma despretensiosa e relaxada com a qual o protagonista é apresentado.
Childish Gambino, pseudônimo de Donald Glover se investe de seu personagem em This is America mas de maneira mais natural e com mais tempo de tela nos agracia com suas danças peculiares e com uma afinação musical para cantar que eu desconhecia (não acompanho a carreira do ator como músico).
Quanto a Rihanna, bem, o que dizer de uma mulher que sempre está bela nas fotos mas que aqui estava investida numa mulher comum. Bonita ainda, mas comum. Devo admitir que foi uma das coisas que me chamou a atenção. Suas roupas, cabelo. Até a forma de andar não lembrava em nada aquela mulher poderosa criada pela indústria da mídia.
Me surpreendeu também o fato de a trama se passar em uma fictícia ilha chamada Guava tendo como cenário original a ilha de Cuba. Acho que esta foi a primeira vez que eu vi algo filmado lá. Durante todo o filme fiquei me perguntando que lugar era aquele sem obter resposta. As ruas de terra, casas pobres, igreja humilde e predominância de pessoas negras me fez lembrar de muitos locais pobres no Brasil
O filme em si tenta ser um musical e conta uma história de opressão e sobre a importância de se ter um tempo para a diversão. Literalmente ter uma folga para o trabalho chato e repetitivo. Me fez pensar o quanto por vezes entramos no automático e deixamos que as "prioridades" e obrigações da vida se sobreponham sobre o que de fato nos faz faz bem que é viver a vida com quem amamos e com quem nos faz bem.
Final é meio que previsível mas nem de longe tira a leveza e a despretensão com a qual a história segue. Diversão boa para a quarentena.

Confinado em um 14 de maio



Acordei cedo hoje, não porque quisesse ou porque havia me programado para. Simplesmente despertei.
As luzes apagadas. A cidade ainda dorme, mas cá estou eu desperto ouvindo as poucas gotas de uma chuva que timidamente ensaia cair. A maioria dos quatorze de maio são assim, com chuvosos, contemplativos.
A chuva, tão fluída como o tempo passou. Para mim, por quarenta anos. Reflito sobre o momento em que estou, sobre a saúde que tenho e sobre o tempo que vivo e percebo de fato o quanto é desafiante estar aqui respirando literalmente.
Cheguei a quatro décadas de vida confinado, ameaçado por algo tão pequeno quanto a um vírus. Paro para pensar o quanto evoluímos tecnologicamente nos mais diversos assuntos mas aceitamos e permitimos que uma gripe nos pusesse de joelhos, ou melhor, de quarentena.
É um tempo muito louco para se estar vivo, contudo, sou grato. Grato por tudo o que tenho. Grato por ter um pai que me ama de maneira incondicional e com toda certeza é um homem melhor do que eu. Grato por ter uma mãe alegre e persistente que me ensinou a ter garra mas levar a vida com leveza. Grato pela namorada que tenho por me fazer me sentir amado e importante para alguém. Sou grato pela minha profissão com a qual conquistei tudo que tenho mas acima de tudo com a qual me realizei como pessoa.
O mundo pode estar louco e por vezes pode nos deixar loucos, contudo, em meio a esta loucura vou tocando meu barco de lucidez. Enfrentando o mar feroz e a chuva que ensaia cair. Que venham ao menos mais quarenta anos e que sejam todos de desafios, de superações e de alegrias no final.

quarta-feira, 18 de março de 2020

Lágrimas


Por vezes as lágrimas apenas vêm. Sem pedir licença e tampouco se importando se é o momento e o lugar certo.
Elas transbordam quando não há mais o que se fazer. É o recurso final da alma quando esta se cansa de tanto lutar.
São como palavras tristes que carregam toda uma dor para a qual não se tem solução.
É a forma de se gritar para o mundo o quanto tudo está errado e ainda assim fluído.
Por vezes as lágrimas apenas vêm. Chegam de uma maneira incontrolável, entre soluços e olhos cerrados, pensamentos reincidentes e constantes.
Estragam a maquiagem, avermelham os olhos e enruga todo o rosto.
Geram empatia e pena àqueles que por perto estão, as indiferença a quem por tantas vezes já perdeu em tantas noites de choro.
São o ápice de algo que precisa ser posto para fora mas não sai.
Lágrimas são o que são. Pequenas gotas de grandes sentimentos por vezes sem sentido, por vezes dolorosos mas tão vivos dentro de nós.
Venha e transborde. Derrame e deforme mas acima de tudo faça ir embora a dor.

sexta-feira, 24 de maio de 2019

Mais um 14, mais um maio...


E o mês de maio vai assim passando. Lento, frio e chuvoso. As coisas de maio são assim. Lentas, porém contemplativas. Frias como quem se convida para um carinho quente e chuvosas como aquele período reflexivo necessário a alma.
Para os astrólogos é o mês de touro e de gêmeos. Dizem que touro pertence ao elemento terra. Deve ser verdade. Sempre gostei do cheiro de terra molhada e das coisas belas e cultas, do material e do tangível, da segurança e do conforto, mas quem não gosta de tudo isso não é?
Maio se vai mais uma vez. Para mim pela trigésima nona. Vejo agora um novo ciclo se iniciar lento, frio e chuvoso mas também esperançoso. 
O ano é constituído de um conjunto de doze meses como aprendemos desde de criança, mas maio é aquela parte deste duodécimo que teima em existir e se destacar na diversidade álgida da simplicidade.
E nesta morosidade gélida e pluvial vou seguindo com meu barco.

segunda-feira, 15 de abril de 2019

Hi Score Girl e uma saudade boa



Eu devia ter uns doze anos de idade quando tive meu primeiro contato com os jogos de fliperama. Fazia naquela época um curso de mecânica de automóveis em uma escola perto de casa. Não sabia, como qualquer garoto desta idade, o que queria fazer da vida. Ia para este curso mais por conta da vontade do meu pai.
A introdução é nostálgica porque remete a um tempo de minha vida que parece tão distante, mas enfim, o que diabos tem haver o curso de mecânica que eu fiz e o seriado Hi-Score Girl da Netflix? A resposta é simples. Havia um fliperama do lado da escola.
Lembro que prestava pouca atenção as aulas. Ficava a maior parte do tempo vendo os outros garotos jogarem. Muitas das vezes os professores me chamavam para a aula porque lá estava eu no fliperama. 
Essa paixão continuou por anos. Prestei prova para uma escola técnica em outra cidade. Passei, comecei a estudar e logo fui reprovado no primeiro ano. Muito dessa reprovação se deveu a The King of Fighters 95. Deixava de ir a aula para passar a manhã inteira jogando. Claro que haviam outros motivos para minha reprovação mas meu vício em fliperama foi um deles.
Os anos se passaram. Mudei meu gosto por jogos para RPG e consoles caseiros e cá estou vinte e seis anos depois escrevendo estas poucas linhas com um sorriso no canto da boca.
Hi Score Girl conta a história de Haruo. Um garoto com a idade próxima a que eu tinha naquele época. Ruim com os esportes, com a escola e com todo o resto, mas, dedicado aos jogos, principalmente a Street Figher 2. Ele nutre uma relação de ódio no começo mas de amor também por Ono, uma garota misteriosa e que é melhor do que ele nos jogos de luta.
Para quem foi criança e adolescente na década de 90 se reconhecerá em muito com as situações vividas pelo protagonista. Gastar todo seu dinheiro nos jogos, viajar para lugares distantes para conhecer novos fliperamas e games de luta. Fazer amizades sinceras e inimizades também. O caminho trilhado por Haruo é o mesmo que trilhei e o mesmo que muito por aí trilharam também.
Poucas obras hoje em dia me fazem refletir sobre minha vida e minhas lembranças. Talvez esse seja o motivo pelo qual Hi Score Girl tenha ganho um espaço no meu coração. Espero que traga boas lembranças a muito mais pessoas também.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Já faz um ano

Dia 5 passado fez um ano que escrevi algo por aqui. Um bom tempo eu diria, mas não significa que a vida parou. Talvez seja o caso de falta de inspiração mas com toda a certeza não é o caso de falta de coisas para fazer.
Neste intervalo de um ano muitas mudanças ocorreram. Passei a morar sozinho o que inevitavelmente me levou a ter que cozinhar minha própria comida. Parece cômico e aqueles que me conhecem sabe a negação que eu era na cozinha.
O fato é que após um ano vejo um saldo positivo de mudanças. Protelei demais e hoje tento recuperar o tempo com novas experiências diárias, mas todas enriquecedoras.
Nova vida, novos ares e um melhor ânimo. Tenho me percebido mais solto e comunicativo. Acredito que aqui o pouco mais de idade tenha me permitido olhar as coisas ao meu redor de uma maneira mais suave.
Por fim, continuo acreditando sem ressalvas que mudar ainda é a única certeza imutável e que o novo abre se apresenta em diversas oportunidades. Tudo é uma questão de observar e agarrar aquela que melhor se apresenta.