sexta-feira, 19 de julho de 2013

Mais médico e o império do Brasil



Li agora a pouco na Folha de São Paulo uma matéria sobre o rompimento da federação dos médicos com o governo. O motivo seria o tão falado Ato médico e principalmente o programa Mais médico que a grosso modo importará médicos de outros países para trabalharem em localidades distantes e com carência de profissionais da área da saúde.

Tenho uma opinião ambígua nesta questão. Sou contra a importação de médicos porque em se tratando de Brasil eles com certeza virão sem falar português, não terão tempo adequado para se adaptarem às práticas médicas brasileiras (existem procedimentos não adotados aqui no Brasil que são utilizados lá fora e vice e versa) e ainda não se sabe em quais condições tais profissionais virão trabalhar aqui (infra estrutura, salário, benefícios, etc).
Por outro lado, ainda que se trate de um remendo é fato que o povo precisa de saúde e precisa agora. A politicagem fez passar muito tempo e o povo não suporta mais esta espera. O fato é que algo deveria ser feito, só não escolheram a melhor solução.
Agora interessante foi a reação da federação dos médicos rompendo com o governo. Mais elitista que a casta dos médicos acredito que seja apenas a dos juízes. Me lembro de anos atrás quando a prefeitura de São Paulo inaugurou o hospital de Cidade Tiradentes. Nenhum médico quis trabalhar lá. O hospital teve sua inauguração protelada. Acho interessante os médicos querendo um plano de carreira igual ao dos juízes em uma época que tais benefícios para "classes especiais" estão sendo questionados nas ruas. O correto seria que tais mimos não existissem para qualquer classe que fosse.
Ao escolherem ser médicos, a priori, os indivíduos optaram por lidar com a dor. Entendo sim que um médico tem que ganhar muito, mas muito dinheiro porque estudam, porque se dedicam, porque dão o melhor de si (alguns), mas remuneração é diferente de um plano de carreira igual ao do judiciário ou do legislativo. Aliás, se já é vergonhoso o auxílio paletó que um deputado recebe o que se diria de um auxílio jaleco? Mais um agrado pago pelo dinheiro público.
Isso abriria precedente para os engenheiros, advogados, administradores, contadores, policiais, bombeiros, motoristas de ônibus, pedreiros e uma infinidade de profissionais pedirem um plano de carreira estilo judiciário.
Em termos acadêmicos é injusto comparar um médico a um pedreiro mas em termos de cidadania os dois são iguais e se o primeiro quer ter benefícios o segundo merece ter também.
Essa picuinha me faz lembrar do Brasil império é como se os médicos fossem os grandes barões querendo mais ouro e prestígio e dona Dilma fosse a imperatriz sem saber o que fazer com a plebe batendo aos portões de seu castelo.
No meu ponto de vista a solução para a saúde no Brasil está infelizmente no longo prazo. Não adianta o governo abrir uma universidade na zona leste de São Paulo, colocar o nome de USP e fornecer o curso de Ciências da natureza (apesar de ser necessário também) ao invés de um curso de medicina. Não adianta colocar uma universidade federal em Guarulhos oferecendo cursos diversos na área de humanas sem o curso de medicina. Antes que os esquerdistas de plantão digam que menosprezo os graduações citadas acima em detrimento do curso de medicina gostaria de dizer que sou formado em Letras e entendo da importância das ciências humanas. O fato é que se há deficiência na quantidade de médicos formados para atender a população, que se criem mais salas de aula de medicina. Que se isente de impostos as universidades pagas para que os cursos de medicina e os demais tenham seus preços reduzidos, afinal de contas se dá para isentar de impostos igreja que compra canal de televisão porque não as universidades que formam profissionais ao invés de religiosos fundamentalistas que dão até as cuecas nos cultos?
Porque não remunerar melhor o profissional médico que trabalha mais distante e em condições menos favoráveis? E por fim, por que abrir um monte de postos de saúde que não tem equipamentos suficientes nem infra para os profissionais de saúde trabalharem.
O problema do Brasil não é saúde, tampouco segurança, mas sim educação. Com ela, os outros dois problemas se não forem sanados ao menos serão reduzidos a níveis inexpressivos.
Não basta lordes brigarem com o sobreano por prestígio enquanto a população literalmente sofre na carne.

Um comentário:

Abilio disse...

Imagine no hospital Santa Marcelina o seu atendimento. Pero que si pero que no.