domingo, 22 de dezembro de 2013

Para sempre serei teu e você minha


Ele olhava para aqueles olhos cinzentos e fundos. Mal podia acreditar que a muito tempo atrás eles foram de um negro profundo como o de uma noite sem luar.
Seus olhos percorriam aquele rosto, outrora jovial e belo. Conseguia encontrar aqui e ali alguns pontos que insistiam em não quererem mudar com a idade. E ela ainda era bela.
A água estava no fogo e ele havia se esquecido. O chá a tarde era quase que um ritual sagrado, mas o olhar contemplativo, quando não se é mais moço pode durar uma eternidade se não mais.
As pressas correu para o fogão, desligou o fogo e com um pano velho pegou a alça da chaleira. Onde estava a camomila? perguntou -se. A memória teimava em pregar-lhe peças como um moleque arteiro colocando tachinhas na cadeira dos outros. 
Ele vira para um lado e para o outro até que seu olhar volta a fitá-la. Lá está ela, deitada, vestida de azul. Sim, o tempo havia passado mas ela ainda era seu anjo. Nunca deixara de vê-la como tal. Ele podia não lembrar onde estava o chá, mas lembrava de suas mão entre aqueles cabelos que já foram negros também. Era seu anjo, tão seu.
Ao virar o rosto para o outro lado, como por milagre ali estava a camomila. Apressou-se, misturou-a a água, e com um coador filtrou-o. Adoçou da maneira que ela gostava e se pôs a beira da cama. Levava a xícara àquela boca que mal se movia. Com pequenos goles ela engolia mas sem expressar sabor ou alegria. Os olhos cinzentos teimavam em olhar para a janela como se esperasse a chegada de alguém.
Triste mas ainda assim relutante em entregar-se a situação, ele teimava em fazer-lhe elogios e em dizer-lhe o quanto ela estava linda naquela tarde.
Terminado o chá e já meio cansado ele deitou-se ao lado dela na cama e abraçou-a com carinho buscando aquele cheirinho bom que apenas ela tinha. Adormeceu.
O sol raiava e mal percebera mas já havia passado uma noite inteira. Apesar do calor que já fazia ela parecia fria, com os olhos fechados continuava parecendo um anjo. Sua boca esboçava um sorriso e ela respirava suavemente. Seu coração acelerado e seu rosto pálido não negavam o susto que tivera. Pensara no pior, mas não era hora ainda.
Levantou-se mais uma vez, beijou-lhe a fronte e foi preparar-lhe café elogiando-a e dizendo que naquela manhã não existia mulher mais linda na face da terra. Ela sorriu e ele percebeu aquele sorriso e seu peito se encheu de alegria e seu dia se encheu de cor.

Moral da história

O amor está nos pequenos gestos. No dia a dia, numa infinidade de rotinas que precisam ser quebradas e ainda assim mantidas. Que nos tornemos velhos, mas ainda assim mantenhamos jovens de coração.

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