1.
Uma
breve história das telecomunicações
De acordo com a sociologia, o homem
é um ser que depende um dos outros para produzir algo, se divertir, aprender e
até mesmo brigar entre tantas outras coisas.
As interações sociais, desde os
tempos mais remotos, tiveram como motor a comunicação. Eram desenhos em paredes
de cavernas, grunhidos, gestos, algo que pudesse estabelecer uma relação, um
tipo de conversa assim por dizer.
Os anos passaram, a linguagem falada
evoluiu. Os meios evoluíram e com o advento da escrita surgiram as cartas. A
comunicação de voz foi convertida pela primeira vez em um novo formato: o de
caracteres escritos em um meio.
Primeiro foram os mensageiros a
transportar as cartas, que quando lidas reproduziam o discurso de quem as
elaborou. Mas a necessidade de comunicação tendia a querer alcançar distâncias
cada vez maiores e, portanto, se fez necessária a elaboração de um sistema de
logística mais complexo. Surgiam então os serviços postais como os correios.
A distância, antes destes conceitos,
podia separar familiares e amigos por uma vida toda, contudo e ainda assim com
esses novos recursos mais sofisticados um problema surgiu: vencer distâncias a cavalo ou por outro meio,
podia demorar dias, semanas ou até mesmo meses. A questão era: como tornar a
comunicação mais rápida? Como entregar uma mensagem de maneira instantânea?
Estas eram questões que incomodavam
Samuel Finley Breese Morse. Este senhor norte americano desenvolveu um sistema
de comunicação que grosso modo convertia pulsos elétricos em informação
codificada. Surgia então o código morse, o telégrafo e o conceito de
telecomunicações.
Postes, cabos, eletroímãs, baterias
e mensagens chegando instantaneamente de uma localidade remota a outra. As
comunicações evoluíram muito, mas com essa evolução, um novo ciclo de problemas
surgiu: como tornar a mensagem privada? E principalmente, como podermos ouvir a
voz de um ente querido?
O telégrafo havia dado o pontapé nos
estudos da conversão de informações em pulsos elétricos. Por que não se tentar
converter a voz em pulsos também? Alexander Graham Bell percebeu esta nova
demanda e desenvolveu o sistema que revolucionou as comunicações e a maneira de
interagirmos uns com os outros: o telefone.
Sim, era necessário uma telefonista
para completar uma ligação, entretanto, o fato de poder ouvir a outra pessoa, a
comunicação instantânea, até certo ponta a privacidade e o fato de não se
deixar registros fixos sobre o conteúdo conversado fez o telefone se tornar a
invenção do século trazendo benefícios a todos.
Durante quase cem anos a evolução do
telefone foi pouca. Acreditava-se ter-se chegado ao ápice de uma tecnologia,
até que surgiram, nas décadas de 60 e 70, os conceitos de dados digitais e
mobilidade. Primeiro surgiram os aparelhos de fax. Uma cópia digital de um
documento enviado a distância. Depois o conceito de rede de computadores e por
fim, na década de 90 a internet como a conhecemos.
Em
conjunto com essa evolução dos dados o telefone fixo passou a apresentar um
novo problema, da mesma maneira que as tecnologias anteriores. Com as pessoas
trabalhando mais, estudando mais, vivendo cada vez mais horas do dia longe de
suas residências como manter a relevância de uma tecnologia que
obrigatoriamente requeria o usuário em casa? Surgia então a segunda revolução
do telefone: a mobilidade das linhas celulares.
Este
artigo tem por objetivo avaliar o cenário de convergência das redes fixas e
móveis e prever, dadas as informações atuais, um futuro viável para as
telecomunicações.
2.
Sobre
o perfil do consumidor de telefonia e suas expectativas
Telecomunicações
seguem tendências. A afirmação parece um tanto quanto óbvia, mas ainda assim,
carece de uma avaliação um pouco mais profunda.
Pode-se
afirmar que a evolução dos produtos nesta área ocorreu em duas fases. A
primeira no seu surgimento. Havia uma necessidade de comunicação, e tal
necessidade foi suprida com o advento do telefone. A tecnologia, da forma como
foi concebida não carecia de uma evolução. De certo modo, o objetivo para o qual
foi concebida havia sido alcançado.
A
segunda pode ser observada após um hiato de décadas a partir do surgimento do
telefone. A maioria dos países entendia, e ainda entende que a função
primordial do telefone é estabelecer uma comunicação de voz. O usuário de
telefone tinha também esta percepção, principalmente em localidades onde o
serviço de telecomunicações era fornecido por empresas públicas. Contudo,
países com operadores privados, por volta da década de 70, entenderam que
aguardar a maturação do cliente quanto a tecnologia e suas possibilidades
demandaria muito tempo e, portanto, novos produtos e serviços desenvolver-se-iam
de maneira lenta também.
Frente
a esta realidade, surgiu então, uma nova demanda para os fabricantes de
equipamentos advinda da necessidade não mais dos clientes finais, mas sim dos
operadores que tinham o intuito de “orientar” a maneira de o cliente enxergar o
telefone. As primeiras centrais telefônicas com processamento armazenado, mais
comumente conhecidas como CPA foram desenvolvidas. Tais equipamentos, assim
como as centrais eletromecânicas que as antecedeu tinham como função primordial
o completamento de chamadas (jargão técnico que remete a quantidade de chamadas
completadas), porém, a nova tecnologia foi pensada de modo a gerar serviços
(fonte: site Ericsson History). Identificação de chamadas, transferência,
conferência, discagem abreviada. O Sistema passou a prover serviços de valor
agregado que seriam até certo ponto inimagináveis a um usuário comum de linha
fixa.
Os
papéis finalmente se inverteram. Antes o cliente trazia uma demanda ao negócio,
agora, o negócio gerava produtos que por sua vez induziam o cliente a uma nova
demanda.
Os
usuários de telefonia aderiram rapidamente a estas facilidades, incorporando-as
de maneira indissociável ao telefone e propondo melhorias.
O
grande produto gerado neste novo contexto e que exemplifica muito bem esta
questão de oferta de serviços e direcionamento do consumidor é a internet.
Quando lançada comercialmente, muitas pessoas sequer entendiam do que se
tratava. Hoje, este é o principal nicho de mercado de qualquer operadora.
Os
clientes atualmente utilizam mais dados que voz (fonte: site TELECO). Esta é
uma tendência mundial (fonte: site IDGNOW). Ter nas telas de seus smartphones
sites, televisão, mensagens instantâneas vem se mostrando algo muito mais
interessante do que falar ao telefone.
As
facilidades da internet, somadas a mobilidade da telefonia celular já ditaram
qual é o futuro a ser seguido pelas operadoras. Ainda assim, a demanda pelo
chamado triple play que consiste no conjunto de telefonia, televisão e internet
de alta velocidade manterá a telefonia fixa como um produto com certa
atratividade junto ao consumidor, contudo, relegado a um segundo plano. Tal
atrativo é somente considerado pelo fato de a fibra ótica utilizada para
alcançar as residências dos assinantes ser um meio de transmissão mais estável
que as ondas de radiofrequência utilizadas na telefonia celular. Novamente
aqui, observa-se, assim como na telefônica móvel, que os clientes não utilizam
com frequência os serviços de voz mais sim a internet de alta velocidade.
Os
clientes perceberam a facilidade de juntar formas de entretenimento diversas na
internet, como TV, música, notícias e etc e esta percepção é o que norteia os
investimentos das operadoras em equipamentos para aumento de banda e cobertura.
3.
Cenário
atual das operadoras de telecomunicações
As
operadoras móveis tem uma percepção clara do que os clientes almejam: dados.
Entretanto, existe toda uma estrutura já montada voltada para a comutação por
circuitos que nada mais é que o sistema de telefonia baseado em voz. Tal
passivo de equipamentos se mostra atual e totalmente funcional. Substituí-los
por equipamentos de comutação por pacotes e que tratam o tráfego de dados,
requereria um investimento considerável.
Diante
deste impasse, a maioria das operadoras móveis optou por fornecer planos de voz
ilimitados ou com quantidade de minutos elevados por valores irrisórios na casa
dos centavos (exemplos: TIM Liberty, VIVO Controle, NEXTEL Fale a Vontade, etc).
O intuito aqui é manter a relevância do serviço e, portanto, a ocupação e
utilização dos equipamentos existentes na rede bem como uma remuneração
planificada.
Em
contra partida, o investimento em equipamentos provedores de dados é realizado
de maneira gradativa de modo a consumir um CAPEX (do inglês: capital
expenditure) definido anualmente para este fim. O CAPEX é a receita reservada
geralmente para o investimento na aquisição de ativos em um dado período. No
caso em específico, a aquisição de equipamentos (fonte: site tiespecialistas).
Correções
nos investimentos são feitas baseadas na percepção de mercado, requisições de
clientes e eventos de grande magnitude como, por exemplo, a Copa do Mundo de
futebol realizada no Brasil em 2014.
Para
que houvesse uma cobertura em 4G nas sedes dos jogos houve um investimento na
aquisição e comodato de equipamentos. Passado quase um ano após tal evento
observa-se que a cobertura 4G continua restrita as sedes do evento. Esse é o
reflexo dos valores cobrados pelos planos com esta tecnologia que na grande
maioria excede a capacidade de investimento por parte do cliente em um serviço
que no geral é considerado como entretenimento e, portanto não tratado como
gasto primordial.
A
questão do quanto o cliente quer ou pode gastar com produtos de voz e dados é sensível
às operadoras. Nesse sentido a telefonia fixa tem certa vantagem quando oferece
o pacote de televisão, internet e telefone. Apesar de estar restrito a uma
localidade fixa, no caso a residência ou comercio do cliente, ter as três
opções de serviços ofertadas a uma família ou grupo de pessoas é visto como um
investimento mais inteligente e agregador.
A
telefonia móvel pode prover os mesmos serviços, porém, de modo individual.
Sendo assim, tomando uma família com três integrantes, como exemplo, teríamos o
investimento em linhas 4G praticamente multiplicado por três.
No
que tange investimentos em renovação de rede, as operadoras de telefonia fixa
tem certa urgência uma vez que para manterem a relevância têm que entregar
fibra ótica e serviços agregados a seus clientes que antes eram atendidos com
pares metálicos e internet via tecnologia ADSL (do inglês: Asymmetric
Digital Subscriber Line).
Para
tanto, a topologia de rede deve ser mudada de modo a diminuir a infraestrutura,
otimizando-a. Operadoras fixas detêm grande quantidade de prédios com
equipamentos, as chamadas centrais telefônicas. Havia uma necessidade para isso
devido a quantidade e volume de equipamentos e insumos. Com o advento das redes
de nova geração (NGN) e estágios de assinante remotos do tipo MSAN (do inglês: multi-service
access node) que podem ser instalados em postes ou via pública as
operadoras fixas passaram a ter a opção de venderem prédios de centrais
telefônicas após a substituição de equipamentos antigos por novos. Como
geralmente tais centrais ficam em localidades de grande valor imobiliário nas
cidades, esta estratégia vem se mostrando financeiramente interessante e reduz
de certo modo a necessidade de capitalização externa para a aquisição de novos
passivos.
Por
ser um setor dinâmico e em constante evolução, as operadoras de um modo geral
precisam dosar o volume de investimento frente a necessidade dos clientes. O
fato é que não se monta uma rede com novos produtos e serviços de uma hora para
a outra e a um baixo custo.
O
norte a ser perseguido é a disponibilização de banda para dados indiferente do
segmento, se móvel ou fixo.
4.
O
que esperar do 5G
Atualmente,
a cobertura 4G não tem um alcance abrangente e ainda carece de uma melhor
estabilidade de sinal. Deste modo, seu potencial não foi explorado em sua
totalidade. Somado a este ponto está a questão dos aplicativos utilizados pelos
usuários comuns e que não requerem muito mais banda do que o 3G fornece.
Serviços
de streaming ainda são vinculados a rede fixa que é mais estável e proporciona
maiores velocidades de download. Se o cliente quer ouvir músicas ou assistir a
vídeos no celular, este ainda as baixa via wi-fi ou pelo computador
transferindo as mídias para o cartão de memória no dispositivo móvel.
Nesse
sentido é correto afirmar que o entretenimento móvel ainda depende de uma rede
fixa para poder existir haja visto que o download de mídia consome rapidamente
os pacotes de dados existentes na telefonia móvel e demandam mais tempo de
download, mesmo nos planos 4G.
Em
se tratando de voz, não existe operadora no Brasil que utilize este seguimento
sobre 4G. Esta tecnologia está relegada ao uso de dados apesar de poder
comportar o serviço de voz. Para que um cliente 4G faça uma chamada ocorre o
processo conhecido como CS – Fallback onde o acesso é comutado para uma rede 3G
ou 2G dependendo da disponibilidade na localidade (fonte: site TELECO).
Resumidamente, o serviço não é utilizado em sua totalidade.
Devido
a estas dificuldades e tipos de uso atribuídos, o 4G pode ser considerado uma
tecnologia de transição para uma geração mais estável, veloz e com mais banda e
tipos de serviços: o 5G.
A
quinta geração de telefonia móvel, já em estudo no Brasil pelos grandes
fabricantes de equipamentos de telecomunicações (fonte: site IDGNOW), terá
velocidades de até 10 Gbs em frequências mais baixas que as atuais (em torno
dos 800 Mhz) o que proporcionará um alcance geográfico maior do sinal se
comparado ao 4G.
Com
tamanha banda, não será mais necessário baixar um filme em alta definição por
exemplo. Este poderá ser assistido via streaming (técnica que armazena
informações em unidades chamadas buffer sem a necessidade de baixa-las no
dispositivo. Um exemplo desta técnica é o site YOUTUBE) e em tempo real sem a
necessidade de se aguardar o armazenamento da informação.
O
5G será a primeira tecnologia móvel a rivalizar efetivamente com a fibra ótica
da telefonia fixa. Do ponto de vista técnico existe uma solução fixa, que pode
funcionar no 4G inclusive, que são as linhas do tipo FWT (do inglês: fixed
wireless terminal).
O
FWT é um terminal fixo fornecido por meio de uma rede móvel que poderá prover além
do serviço de voz internet em alta velocidade. Existe ainda a comodidade da
eliminação do cabeamento dentro do ambiente do cliente.
Com
o 5G, não haverá distinção dos serviços providos por linhas fixas e móveis. A
exceção ficará por conta da mobilidade dos dispositivos como celulares, tablets
e notebooks.
5.
Para
onde vamos e o que queremos
O
entretenimento e a comunicação por multimídia (redes sociais, sites de
relacionamento, compartilhamento de fotos, vídeos, músicas e etc) é uma
realidade hoje e se manterá como a demanda primordial das operadoras de
telecomunicações. Somado a isso, haverá ainda uma demanda considerável pelo
serviço de voz, entretanto, este tenderá a se tornar dados trafegáveis por meio
de pacotes numa rede IP assim como uma música ou um vídeo.
A
comutação por circuitos tenderá lentamente a migrar para a comutação por
pacotes devido a necessidade de otimização das redes das operadoras de telecomunicações,
além disso, o conceito de telefone passara por uma transformação muito grande.
Chamadas em vídeo conferência tornar-se-ão comuns e de fácil utilização por
usuários totalmente alheios a tecnologia por trás desta.
Este
é um ponto interessante quando se pensa na evolução tecnológica. As
telecomunicações passarão a ser algo transparente ao usuário. Analogamente a
energia elétrica, pouco importa ao cliente final a grande quantidade de
equipamentos, estudos ou tecnologia embarcada no momento em que se aperta um
interruptor e uma lâmpada acende.
Este
estudo conclui que no que tange a evolução das redes é mais que correto afirmar
que o futuro é móvel, mesmo para a telefonia fixa que passará a utilizar cada
vez mais a infraestrutura de rede da telefonia móvel. O 5G se encarregará de
fazer a convergência das redes de telecomunicações com as redes de computadores
tornando a resultante em um produto de comunicações multimídia e multinível com
abrangência global, mas, ainda assim, considerando as características regionais.
A
convergência de redes abrangerá também a questão governamental. Se hoje já
utilizamos os dispositivos móveis como forma de pagamento ou vale transporte (via
tecnologia NFC) passaremos a utilizar o serviço de comunicação como meio de
identificação associado a biometria e consultas a banco de dados on-line. Pode
parecer algo extremamente futurista, mas muitas das tecnologias pensadas no
último século são uma realidade nos dias de hoje.
As
telecomunicações manter-se-ão como objeto de evolução da cultura humana podendo
vir a tornar-se um compendio de conhecimento e meio de estabelecimento e
manutenção das relações.
Referência Bibliográfica
WU, Tim. Impérios da Comunicação: Do Telefone a Internet, da AT&T ao Goglee.
1ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. 432 p.
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