domingo, 19 de outubro de 2008

Desapego

Viver sem se importar com coisas materias, pessoas e sentimentos. Isso se chama desapego. Dizem por aí que esse é o caminho para a felicidade. Não se importar com posses. Ter apenas o que se pode usar. Gastar para usar e não para ter.

Em se tratando de coisas materiais a teoria pode ser relativamente fácil de se aplicar, salvo se você é um comprador compulsivo, entretanto, como se desapegar de uma pessoa e de sentimentos?

Coisas nós usamos e enjoamos, mas e pessoas? Nossa interação com o mundo nos faz depender de outros para vivermos. Não se trata apenas de uma dependência abstrata (financeira ou comercial), mas de uma dependência sentimental e é aí que morra a dificuldade do processo.

Gostaria de saber dizer não às pessoas, por isso, e como uma forma de expor essa minha dificuldade coloquei o nome desse blog de "não sei dizer não" e depois mudei para "não é não e ponto final". Me auto afirmar foi a maneira que encontrei para tentar mudar essa situação. Hoje, vejo que se trata de uma tarefa hercúlea dada as circunstâncias e variáveis que há em minha vida.

Todas as noites tomo uma decisão que será a definitiva, mas pela manhã desisto do que foi minuciosamente planejado. Como reajir ou mesmo se impor a um olhar que nos é tão familiar quanto sincero? ou como não desejar aquele olhar todos os dias? Os olhos são armas as armas mais cruéis que existem. Eles não fazem o corpo sangrar, mas sim a alma e essa sangria não estanca.

Por outro lado, o que é se amar mais que tudo? Querer o bem a si próprio acima de outrem? É um paradigma que parece sem solução. Como equacionar o que nos é necessário se, como já dito antes, somos seres sociais? Ao passo que escrevo me recordo de George Orwell que em 1984 prega o fim da intimidade e da sociedade regida por sentimentos, "O desapego total" das pessoas para com os outros. Este não é o tipo de desapego que gostaria de ter em minha vida, contudo, gostaria de me desvencilhar mais facilmente de quem gosto e me faz mal.

Estranha esta ambigüidade onde o que nos faz bem também nos faz mal. As esperanças geradas em torno de alguém que inevitavelmente tem o poder de gerar as melhores expectativas e as piores frustrações em nossas vidas. É muito poder para uma pessoa só. Acredito que em algum momento eu deva ter causado tais questionamentos em alguém. Não me sinto culpado por isso, afinal de contas, em se tratando de relacionamentos todos nós somos egoistas mesmo que sem perceber. O fato é que dessa vez, quem se encontra no olho do furacão sou eu, e como pessoa egoísta que sou, meu problema sempre será maior que o dos outros.

O tempo passa e em um piscar de olhos metade de uma década se foi. Na somatória, não se chega a conclusão do que se ganhou ou se perdeu. Pode até parecer positivo afinal de contas, há um empate, mas isso é infinitamente negativo uma vez que contabilizou-se apenas uma perda de tempo.

Cá estou com minhas reflexões que não chegam a lugar algum. A única conclusão a que chego é que conquistei o desapego, não por outros, mas desapego por mim mesmo.

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