Há muito não escrevo aqui. Um pouco de falta de tempo, um pouco de preguiça e um pouco de esquecimento me afastaram de algo que eu sempre gostei de fazer: escrever.
Nunca fui um bom escritor, mas sempre tive e por vezes tenho a facilidade de encontrar as palavras corretas. Seria um dom? Seria sorte? Talvez um pouco dos dois.
Por falar em sorte, e aqui relacionando-a com benção, no último catorze de Maio fiz quarenta e cinco anos. Tenho sorte por estar bem. Relativamente saudável e estável. Sou abençoado por estar vivo, me sentir respeitado e querido por amigos e principalmente ser amado por uma mulher tão excepcional como a Regina.
Sou grato a Deus por tudo que tenho e por tudo que pude fazer em minha vida a despeito de minhas muitas falhas e muitos erros cometidos nesse processo contínuo de amadurecimento.
Mudei bastante ao longo dos anos. Essa mudança se reflete num estado que eu chamo de calma inquietante. Calma porque tenho paz e serenidade para avaliar a vida com um olhar mais contemplativo e inquietante porque me tornei mais incomodado com determinadas coisa ao meu redor. Estranho não? Acho que a soma dos dois seria melhor traduzida como indiferença, mas pode ser também traduzida como conformação por entender que não posso mudar as coisas erradas do mundo. Posso apenas mudar as coisas erradas que existem em mim.
Sei que já fui muito empático, mas empatia demais atraiu aproveitadores. Sei que já fui muito paciente, mas paciência demais atraiu exploradores. Sei que já fui muito amoroso, mas amor demais atraiu paixões avassaladoras, destrutivas e passageiras. Sei também que já fui inocente demais e por isso sofri muito e demorei para entender que a vida é dura e que ela não liga muito para o que sentimos.
Enfim, calejado demais cresci. Evoluí para alguém indiferente, mas ainda assim, e curiosamente, preocupado. Preocupado ainda com o futuro, com sonhos mais concretos e com pequenas realizações. Coisas com o pé no chão.
Quarenta e cinco anos se passaram e me sinto mais forte e mais preparado para a vida do que me sentia aos vinte, época em que tudo parecia tão mais intenso e verdadeiro.
Saí finalmente do verão e entrei no outono da minha vida, mas não me preocupo. Sempre gostei do frio e das folhas amareladas nas árvores brilhando sob a luz amarela de um sol fraco.
O fato é que em todos os momentos da vida, por mais difíceis que sejam, sempre haverá alguma beleza para ser apreciada, experimentada e vivida. Que venham no mínimo mais quarenta e cinco anos. Não acharia ruim não.
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