terça-feira, 4 de agosto de 2020

Sobre profissionais, sobre amadores e sobre aproveitadores



A um pouco mais de dois anos minha vida mudou um bocado. Comprei um apartamento e passei a morar sozinho. Queria estar mais perto do trabalho e mudar um pouco a vida que estava assim meio mais ou menos, apesar disso não ser algo necessariamente ruim.
O fato é que o ato de querer ter e manter um lar vem se mostrando um caminho tortuoso e espinhoso ao menos para mim, não pela escolha que fiz em si, mas pelas pessoas que dependemos para realizar esse querer.
Tais pessoas classifico em três tipos: os profissionais, que são poucos e raros, os amadores e os aproveitadores.
A história toda começa pela pesquisa para a compra do apartamento. Existem corretores que só conversam pelo whatsapp com você. Existem corretores que tem um texto pronto referente ao imóvel. Existem corretores que se você não tiver o dinheiro da entrada, ainda que tenha um fundo de garantia considerável (meu caso) simplesmente encerram a negociação ali mesmo.
De todos os corretores que conversei, e foram muitos, apenas um de fato conhecia o imóvel que estava vendendo e sentou comigo para explicar taxas, documentos e formas de financiamento. Uma pena não ter gostado do imóvel. Hoje sei que teria sido melhor atendido por ele do que fui pelo corretor com quem fechei o negócio. Este último me apresentou o imóvel que moro hoje. Foi amor a primeira vista. Gostei do acabamento e do lugar, mas queria o andar mais alto. O corretor havia me dito que já estavam todos vendidos. Resolvi fechar o negócio e pedi para ele me avisar acaso alguém desistisse do apartamento mais alto. As obras estavam aceleradas e o prédio seria entregue em cinco meses. Ligava constantemente peguntando se havia surgido uma oportunidade de eu mudar minha compra mas a resposta era sempre a mesma. Não.
Eis que chegou o dia de assinar a papelada do financiamento e receber as chaves. fui avisado com uma semana de antecedência. Resolvi tentar mais uma vez mas a resposta foi outra negativa. Assinei o contrato. Estava feliz com a aquisição até o momento que o construtor me informou que tinhas quatro unidades nos andares superiores a venda ainda. Em resumo, por preguiça ou sabe-se lá o por quê o corretor não correu atrás para fazer uma venda melhor para mim.
Resolvi então mobiliar. Queria tudo planejado. Encontrei uma marcenaria perto de casa. Os materiais que eles usavam pareciam ter uma boa qualidade e o preço era bom. Fiz o projeto e para mim estava tudo perfeito, porém, a marcenaria tinha pego serviço demais. A montagem dos meus móveis atrasou. Discuti várias vezes com o dono da marcenaria que sempre dava novos prazos e não os cumpria. Ele resolveu então contratar marceneiros freelancers. A equipe que veio fazer a montagem chegou com as madeiras todas cortadas nas medidas do projeto, contudo, o projeto havia sido feito todo errado. A cozinha estava errada, o quarto de casal estava errado e o rack da sala também estava errado. O pessoal que veio montar conseguiu fazer ajustes no quarto e na sala, mas na cozinha não teve jeito. Fui brigar de novo com o dono da marcenaria, que foi brigar com o projetista que descobri se recém contratado e que na verdade sequer projetista era. Tratava-se de um ajudante de marceneiro que ganhou um notebook com o software de projeto do trabalho anterior e fuçando aprendeu a desenhar um pouco. Foi o bastante para se vender como projetista no mercado de trabalho. Moral da história, os móveis demoraram demais para ficarem prontos e eu passei muita raiva.
A pedra da pia foi encomendada em uma marmoraria indicada pelo suposto projetista da marcenaria. O instalador da pedra veio com um ajudante. Ambos de bermuda e chinelo nos pés. Sei que um livro não se deve julgar pela capa, mas aqueles dois se mostraram ser a exceção da regra. A pedra da pia foi instalada mas eu pedi para não instalarem o rodapé porque o senhor que viria instalar a tubulação de gás do cooktop e do forno usaria a parte de baixo dos móveis. Assim que ele instalasse, agendaria um novo dia para virem instalar o rodapé. O instalador começou a reclamar que ganhava pouco e que se fosse para vir em outra data eu teria que pagar a parte para ele. Tive que ligar para o dono da marmoraria para resolver esse assunto. A instalação ocorreu como eu pedi em outra data. Até hoje não entendi o que esse instalador quis com esse assunto de pedir dinheiro para retornar. Eu não o contratei, eu contratei a empresa para a qual ele trabalhava.
Comprei as torneiras da pia da cozinha e do banheiro bem como os sifões e metais do banheiro. Minha vizinha do apartamento da frente indicou um encanador. Liguei para ele e pedi para vir instalar. Ele não me passou preço porque disse que precisaria avaliar no local o serviço que teria que ser feito.
Ele chegou de bicicleta. De novo, repito que um livro não deve ser julgado pela capa, mas mais uma vez consegui encontrar uma exceção a regra. Ele olhou os materiais e de pronto disse: "seiscentos reais". O encanador argumentou que seiscentos reais era o seu dia de trabalho. Achei um absurdo aquilo. Disse que achei muito caro e que procuraria outro. Ele então fez uma contraproposta no valor de quinhentos reais. Achei um absurdo de novo, peguei a calculadora do celular e fiz uma conta básica. Seiscentos reais vezes vinte e dois dias trabalhados em um mês daria um salário de treze mil e duzentos reais. Eu com duas graduações na universidade e trabalhando em uma multinacional não ganhava nem metade disso. Com um salário desses era para ele vir instalar torneiras de Ferrari e não de bicicleta. O encanador aparentemente entendeu o absurdo do preço que ele pediu e instalou tudo por cento e vinte reais. Não sei em que mundo ele estava ao pedir esse valor.
Recentemente, pedi para instalar internet aqui em casa. A operadora enviou três equipes para tentar passar o cabo mas não conseguiram, os conduítes estavam entupidos. Estou a mais de vinte dias aguardando o técnico que a construtora vai mandar e até agora nada. Ligo, cobro, passo mensagem e simplesmente não vem ninguém aqui. Nesse ínterim, resolvi ligar para uma outra construtora que faz reformas. De repente mandavam alguém aqui mais rápido. Pegaria a nota fiscal e faria a construtora daqui me ressarcir. Agendei a visita de um engenheiro para hoje a tarde, mas como azar para mim é besteira, esse engenheiro não veio e não ligou para dizer o motivo.
Para finalizar esse breve relato, vi que há uma outra marcenaria ainda mais perto da minha casa. Como estou trabalhando de casa e uso a mesa da cozinha como escritório, resolvi fazer no quarto de solteiro uma mesa para computador. Fui nesta marcenaria. O atendimento foi bom. O dono anotou meu contato e informou que mandaria mensagem para agendar a visita e medição do local para o projeto da mesa. Faz cinco dias isso e até agora nenhum contato.
Pelo relato parece que sou azarado ou que não sei escolher profissionais para fazer serviços para mim, mas não se trata de nem uma, nem outra coisa. Trata-se de pessoas que inventam de serem empreendedoras sem terem compromisso nenhum com cliente, com qualidade, com prazo ou com expectativa. São no melhor dos casos amadores e no pior aproveitadores. O mais triste é que os bons profissionais são minoria. Trabalhar com prazo, ter satisfação com o que se faz, zelar pelo próprio nome da sua empresa ou ter funcionários que zelam por ele é cada vez mais raro. Minha experiência nesses últimos dois anos vem me mostrando o quanto o jeitinho brasileiro estragou a sociedade como um todo. O reflexo está aí, maus profissionais descomprometidos, enganadores, oportunistas e sem respeito. Aqui é a selva onde o cliente não tem razão. Somente paga e passa raiva. 


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