quinta-feira, 14 de maio de 2020

Confinado em um 14 de maio



Acordei cedo hoje, não porque quisesse ou porque havia me programado para. Simplesmente despertei.
As luzes apagadas. A cidade ainda dorme, mas cá estou eu desperto ouvindo as poucas gotas de uma chuva que timidamente ensaia cair. A maioria dos quatorze de maio são assim, com chuvosos, contemplativos.
A chuva, tão fluída como o tempo passou. Para mim, por quarenta anos. Reflito sobre o momento em que estou, sobre a saúde que tenho e sobre o tempo que vivo e percebo de fato o quanto é desafiante estar aqui respirando literalmente.
Cheguei a quatro décadas de vida confinado, ameaçado por algo tão pequeno quanto a um vírus. Paro para pensar o quanto evoluímos tecnologicamente nos mais diversos assuntos mas aceitamos e permitimos que uma gripe nos pusesse de joelhos, ou melhor, de quarentena.
É um tempo muito louco para se estar vivo, contudo, sou grato. Grato por tudo o que tenho. Grato por ter um pai que me ama de maneira incondicional e com toda certeza é um homem melhor do que eu. Grato por ter uma mãe alegre e persistente que me ensinou a ter garra mas levar a vida com leveza. Grato pela namorada que tenho por me fazer me sentir amado e importante para alguém. Sou grato pela minha profissão com a qual conquistei tudo que tenho mas acima de tudo com a qual me realizei como pessoa.
O mundo pode estar louco e por vezes pode nos deixar loucos, contudo, em meio a esta loucura vou tocando meu barco de lucidez. Enfrentando o mar feroz e a chuva que ensaia cair. Que venham ao menos mais quarenta anos e que sejam todos de desafios, de superações e de alegrias no final.

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