domingo, 31 de maio de 2015

Convergência de Redes de Telecomunicações




1.   Uma breve história das telecomunicações

            De acordo com a sociologia, o homem é um ser que depende um dos outros para produzir algo, se divertir, aprender e até mesmo brigar entre tantas outras coisas.
            As interações sociais, desde os tempos mais remotos, tiveram como motor a comunicação. Eram desenhos em paredes de cavernas, grunhidos, gestos, algo que pudesse estabelecer uma relação, um tipo de conversa assim por dizer.
            Os anos passaram, a linguagem falada evoluiu. Os meios evoluíram e com o advento da escrita surgiram as cartas. A comunicação de voz foi convertida pela primeira vez em um novo formato: o de caracteres escritos em um meio.
            Primeiro foram os mensageiros a transportar as cartas, que quando lidas reproduziam o discurso de quem as elaborou. Mas a necessidade de comunicação tendia a querer alcançar distâncias cada vez maiores e, portanto, se fez necessária a elaboração de um sistema de logística mais complexo. Surgiam então os serviços postais como os correios.
            A distância, antes destes conceitos, podia separar familiares e amigos por uma vida toda, contudo e ainda assim com esses novos recursos mais sofisticados um problema surgiu:  vencer distâncias a cavalo ou por outro meio, podia demorar dias, semanas ou até mesmo meses. A questão era: como tornar a comunicação mais rápida? Como entregar uma mensagem de maneira instantânea?
            Estas eram questões que incomodavam Samuel Finley Breese Morse. Este senhor norte americano desenvolveu um sistema de comunicação que grosso modo convertia pulsos elétricos em informação codificada. Surgia então o código morse, o telégrafo e o conceito de telecomunicações.
            Postes, cabos, eletroímãs, baterias e mensagens chegando instantaneamente de uma localidade remota a outra. As comunicações evoluíram muito, mas com essa evolução, um novo ciclo de problemas surgiu: como tornar a mensagem privada? E principalmente, como podermos ouvir a voz de um ente querido?
            O telégrafo havia dado o pontapé nos estudos da conversão de informações em pulsos elétricos. Por que não se tentar converter a voz em pulsos também? Alexander Graham Bell percebeu esta nova demanda e desenvolveu o sistema que revolucionou as comunicações e a maneira de interagirmos uns com os outros: o telefone.
            Sim, era necessário uma telefonista para completar uma ligação, entretanto, o fato de poder ouvir a outra pessoa, a comunicação instantânea, até certo ponta a privacidade e o fato de não se deixar registros fixos sobre o conteúdo conversado fez o telefone se tornar a invenção do século trazendo benefícios a todos.
            Durante quase cem anos a evolução do telefone foi pouca. Acreditava-se ter-se chegado ao ápice de uma tecnologia, até que surgiram, nas décadas de 60 e 70, os conceitos de dados digitais e mobilidade. Primeiro surgiram os aparelhos de fax. Uma cópia digital de um documento enviado a distância. Depois o conceito de rede de computadores e por fim, na década de 90 a internet como a conhecemos.
Em conjunto com essa evolução dos dados o telefone fixo passou a apresentar um novo problema, da mesma maneira que as tecnologias anteriores. Com as pessoas trabalhando mais, estudando mais, vivendo cada vez mais horas do dia longe de suas residências como manter a relevância de uma tecnologia que obrigatoriamente requeria o usuário em casa? Surgia então a segunda revolução do telefone: a mobilidade das linhas celulares.
Este artigo tem por objetivo avaliar o cenário de convergência das redes fixas e móveis e prever, dadas as informações atuais, um futuro viável para as telecomunicações.

2.   Sobre o perfil do consumidor de telefonia e suas expectativas

Telecomunicações seguem tendências. A afirmação parece um tanto quanto óbvia, mas ainda assim, carece de uma avaliação um pouco mais profunda.
Pode-se afirmar que a evolução dos produtos nesta área ocorreu em duas fases. A primeira no seu surgimento. Havia uma necessidade de comunicação, e tal necessidade foi suprida com o advento do telefone. A tecnologia, da forma como foi concebida não carecia de uma evolução. De certo modo, o objetivo para o qual foi concebida havia sido alcançado.
A segunda pode ser observada após um hiato de décadas a partir do surgimento do telefone. A maioria dos países entendia, e ainda entende que a função primordial do telefone é estabelecer uma comunicação de voz. O usuário de telefone tinha também esta percepção, principalmente em localidades onde o serviço de telecomunicações era fornecido por empresas públicas. Contudo, países com operadores privados, por volta da década de 70, entenderam que aguardar a maturação do cliente quanto a tecnologia e suas possibilidades demandaria muito tempo e, portanto, novos produtos e serviços desenvolver-se-iam de maneira lenta também.
Frente a esta realidade, surgiu então, uma nova demanda para os fabricantes de equipamentos advinda da necessidade não mais dos clientes finais, mas sim dos operadores que tinham o intuito de “orientar” a maneira de o cliente enxergar o telefone. As primeiras centrais telefônicas com processamento armazenado, mais comumente conhecidas como CPA foram desenvolvidas. Tais equipamentos, assim como as centrais eletromecânicas que as antecedeu tinham como função primordial o completamento de chamadas (jargão técnico que remete a quantidade de chamadas completadas), porém, a nova tecnologia foi pensada de modo a gerar serviços (fonte: site Ericsson History). Identificação de chamadas, transferência, conferência, discagem abreviada. O Sistema passou a prover serviços de valor agregado que seriam até certo ponto inimagináveis a um usuário comum de linha fixa.
Os papéis finalmente se inverteram. Antes o cliente trazia uma demanda ao negócio, agora, o negócio gerava produtos que por sua vez induziam o cliente a uma nova demanda.
Os usuários de telefonia aderiram rapidamente a estas facilidades, incorporando-as de maneira indissociável ao telefone e propondo melhorias.
O grande produto gerado neste novo contexto e que exemplifica muito bem esta questão de oferta de serviços e direcionamento do consumidor é a internet. Quando lançada comercialmente, muitas pessoas sequer entendiam do que se tratava. Hoje, este é o principal nicho de mercado de qualquer operadora.
Os clientes atualmente utilizam mais dados que voz (fonte: site TELECO). Esta é uma tendência mundial (fonte: site IDGNOW). Ter nas telas de seus smartphones sites, televisão, mensagens instantâneas vem se mostrando algo muito mais interessante do que falar ao telefone.
As facilidades da internet, somadas a mobilidade da telefonia celular já ditaram qual é o futuro a ser seguido pelas operadoras. Ainda assim, a demanda pelo chamado triple play que consiste no conjunto de telefonia, televisão e internet de alta velocidade manterá a telefonia fixa como um produto com certa atratividade junto ao consumidor, contudo, relegado a um segundo plano. Tal atrativo é somente considerado pelo fato de a fibra ótica utilizada para alcançar as residências dos assinantes ser um meio de transmissão mais estável que as ondas de radiofrequência utilizadas na telefonia celular. Novamente aqui, observa-se, assim como na telefônica móvel, que os clientes não utilizam com frequência os serviços de voz mais sim a internet de alta velocidade.
Os clientes perceberam a facilidade de juntar formas de entretenimento diversas na internet, como TV, música, notícias e etc e esta percepção é o que norteia os investimentos das operadoras em equipamentos para aumento de banda e cobertura.
  
3.   Cenário atual das operadoras de telecomunicações

As operadoras móveis tem uma percepção clara do que os clientes almejam: dados. Entretanto, existe toda uma estrutura já montada voltada para a comutação por circuitos que nada mais é que o sistema de telefonia baseado em voz. Tal passivo de equipamentos se mostra atual e totalmente funcional. Substituí-los por equipamentos de comutação por pacotes e que tratam o tráfego de dados, requereria um investimento considerável.
Diante deste impasse, a maioria das operadoras móveis optou por fornecer planos de voz ilimitados ou com quantidade de minutos elevados por valores irrisórios na casa dos centavos (exemplos: TIM Liberty, VIVO Controle, NEXTEL Fale a Vontade, etc). O intuito aqui é manter a relevância do serviço e, portanto, a ocupação e utilização dos equipamentos existentes na rede bem como uma remuneração planificada.
Em contra partida, o investimento em equipamentos provedores de dados é realizado de maneira gradativa de modo a consumir um CAPEX (do inglês: capital expenditure) definido anualmente para este fim. O CAPEX é a receita reservada geralmente para o investimento na aquisição de ativos em um dado período. No caso em específico, a aquisição de equipamentos (fonte: site tiespecialistas).
Correções nos investimentos são feitas baseadas na percepção de mercado, requisições de clientes e eventos de grande magnitude como, por exemplo, a Copa do Mundo de futebol realizada no Brasil em 2014.
Para que houvesse uma cobertura em 4G nas sedes dos jogos houve um investimento na aquisição e comodato de equipamentos. Passado quase um ano após tal evento observa-se que a cobertura 4G continua restrita as sedes do evento. Esse é o reflexo dos valores cobrados pelos planos com esta tecnologia que na grande maioria excede a capacidade de investimento por parte do cliente em um serviço que no geral é considerado como entretenimento e, portanto não tratado como gasto primordial.
A questão do quanto o cliente quer ou pode gastar com produtos de voz e dados é sensível às operadoras. Nesse sentido a telefonia fixa tem certa vantagem quando oferece o pacote de televisão, internet e telefone. Apesar de estar restrito a uma localidade fixa, no caso a residência ou comercio do cliente, ter as três opções de serviços ofertadas a uma família ou grupo de pessoas é visto como um investimento mais inteligente e agregador.
A telefonia móvel pode prover os mesmos serviços, porém, de modo individual. Sendo assim, tomando uma família com três integrantes, como exemplo, teríamos o investimento em linhas 4G praticamente multiplicado por três.
No que tange investimentos em renovação de rede, as operadoras de telefonia fixa tem certa urgência uma vez que para manterem a relevância têm que entregar fibra ótica e serviços agregados a seus clientes que antes eram atendidos com pares metálicos e internet via tecnologia ADSL (do inglês: Asymmetric Digital Subscriber Line).
Para tanto, a topologia de rede deve ser mudada de modo a diminuir a infraestrutura, otimizando-a. Operadoras fixas detêm grande quantidade de prédios com equipamentos, as chamadas centrais telefônicas. Havia uma necessidade para isso devido a quantidade e volume de equipamentos e insumos. Com o advento das redes de nova geração (NGN) e estágios de assinante remotos do tipo MSAN (do inglês: multi-service access node) que podem ser instalados em postes ou via pública as operadoras fixas passaram a ter a opção de venderem prédios de centrais telefônicas após a substituição de equipamentos antigos por novos. Como geralmente tais centrais ficam em localidades de grande valor imobiliário nas cidades, esta estratégia vem se mostrando financeiramente interessante e reduz de certo modo a necessidade de capitalização externa para a aquisição de novos passivos.
Por ser um setor dinâmico e em constante evolução, as operadoras de um modo geral precisam dosar o volume de investimento frente a necessidade dos clientes. O fato é que não se monta uma rede com novos produtos e serviços de uma hora para a outra e a um baixo custo.
O norte a ser perseguido é a disponibilização de banda para dados indiferente do segmento, se móvel ou fixo.

4.   O que esperar do 5G

Atualmente, a cobertura 4G não tem um alcance abrangente e ainda carece de uma melhor estabilidade de sinal. Deste modo, seu potencial não foi explorado em sua totalidade. Somado a este ponto está a questão dos aplicativos utilizados pelos usuários comuns e que não requerem muito mais banda do que o 3G fornece.
Serviços de streaming ainda são vinculados a rede fixa que é mais estável e proporciona maiores velocidades de download. Se o cliente quer ouvir músicas ou assistir a vídeos no celular, este ainda as baixa via wi-fi ou pelo computador transferindo as mídias para o cartão de memória no dispositivo móvel.
Nesse sentido é correto afirmar que o entretenimento móvel ainda depende de uma rede fixa para poder existir haja visto que o download de mídia consome rapidamente os pacotes de dados existentes na telefonia móvel e demandam mais tempo de download, mesmo nos planos 4G.
Em se tratando de voz, não existe operadora no Brasil que utilize este seguimento sobre 4G. Esta tecnologia está relegada ao uso de dados apesar de poder comportar o serviço de voz. Para que um cliente 4G faça uma chamada ocorre o processo conhecido como CS – Fallback onde o acesso é comutado para uma rede 3G ou 2G dependendo da disponibilidade na localidade (fonte: site TELECO). Resumidamente, o serviço não é utilizado em sua totalidade.
Devido a estas dificuldades e tipos de uso atribuídos, o 4G pode ser considerado uma tecnologia de transição para uma geração mais estável, veloz e com mais banda e tipos de serviços: o 5G.
A quinta geração de telefonia móvel, já em estudo no Brasil pelos grandes fabricantes de equipamentos de telecomunicações (fonte: site IDGNOW), terá velocidades de até 10 Gbs em frequências mais baixas que as atuais (em torno dos 800 Mhz) o que proporcionará um alcance geográfico maior do sinal se comparado ao 4G.
Com tamanha banda, não será mais necessário baixar um filme em alta definição por exemplo. Este poderá ser assistido via streaming (técnica que armazena informações em unidades chamadas buffer sem a necessidade de baixa-las no dispositivo. Um exemplo desta técnica é o site YOUTUBE) e em tempo real sem a necessidade de se aguardar o armazenamento da informação.
O 5G será a primeira tecnologia móvel a rivalizar efetivamente com a fibra ótica da telefonia fixa. Do ponto de vista técnico existe uma solução fixa, que pode funcionar no 4G inclusive, que são as linhas do tipo FWT (do inglês: fixed wireless terminal).
O FWT é um terminal fixo fornecido por meio de uma rede móvel que poderá prover além do serviço de voz internet em alta velocidade. Existe ainda a comodidade da eliminação do cabeamento dentro do ambiente do cliente.
Com o 5G, não haverá distinção dos serviços providos por linhas fixas e móveis. A exceção ficará por conta da mobilidade dos dispositivos como celulares, tablets e notebooks.


5.      Para onde vamos e o que queremos

O entretenimento e a comunicação por multimídia (redes sociais, sites de relacionamento, compartilhamento de fotos, vídeos, músicas e etc) é uma realidade hoje e se manterá como a demanda primordial das operadoras de telecomunicações. Somado a isso, haverá ainda uma demanda considerável pelo serviço de voz, entretanto, este tenderá a se tornar dados trafegáveis por meio de pacotes numa rede IP assim como uma música ou um vídeo.
A comutação por circuitos tenderá lentamente a migrar para a comutação por pacotes devido a necessidade de otimização das redes das operadoras de telecomunicações, além disso, o conceito de telefone passara por uma transformação muito grande. Chamadas em vídeo conferência tornar-se-ão comuns e de fácil utilização por usuários totalmente alheios a tecnologia por trás desta.
Este é um ponto interessante quando se pensa na evolução tecnológica. As telecomunicações passarão a ser algo transparente ao usuário. Analogamente a energia elétrica, pouco importa ao cliente final a grande quantidade de equipamentos, estudos ou tecnologia embarcada no momento em que se aperta um interruptor e uma lâmpada acende.
Este estudo conclui que no que tange a evolução das redes é mais que correto afirmar que o futuro é móvel, mesmo para a telefonia fixa que passará a utilizar cada vez mais a infraestrutura de rede da telefonia móvel. O 5G se encarregará de fazer a convergência das redes de telecomunicações com as redes de computadores tornando a resultante em um produto de comunicações multimídia e multinível com abrangência global, mas, ainda assim, considerando as características regionais.
A convergência de redes abrangerá também a questão governamental. Se hoje já utilizamos os dispositivos móveis como forma de pagamento ou vale transporte (via tecnologia NFC) passaremos a utilizar o serviço de comunicação como meio de identificação associado a biometria e consultas a banco de dados on-line. Pode parecer algo extremamente futurista, mas muitas das tecnologias pensadas no último século são uma realidade nos dias de hoje.
As telecomunicações manter-se-ão como objeto de evolução da cultura humana podendo vir a tornar-se um compendio de conhecimento e meio de estabelecimento e manutenção das relações.

Referência Bibliográfica

WU, Tim. Impérios da Comunicação: Do Telefone a Internet, da AT&T ao Goglee. 1ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. 432 p.

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