Sempre me interessei por teologia. Discutir religiões sempre foi algo muito tranquilo para mim. Não sou nenhum religioso xiita a ponto de achar que este credo ou aquele é o melhor e mais correto. Sempre achei interessante a questão do espiritismo e seus conceitos de reincarnação e de que o indivíduo, a cada passagem tem que buscar melhorar.
Partindo deste princípio, apesar de particularmente não acreditar em reincarnações, fui municiado de todos os conteúdos que já estudei sobre esse assunto assistir ao filme A Viagem (Cloud Atlas). Esperava ser surpreendido pelo filme. Posso dizer que não apenas me surpreendeu como excedeu minha expectativa.
A Viagem se desenvolve por meio de seis histórias que acontecem em períodos diferentes, indo do século XIX até um futuro apocalíptico distante.
O primeiro ponto que eu achei interessante no filme foi a questão da direção, os irmãos Wachowski de Matrix dirigiram as cenas nos cenários futurísticos enquanto que o diretor Tom Tykwer cujos os filmes não conheço nenhum dirigiu as cenas de época. Acreditava que este seria o problema do filme, mas ao assisti-lo dá quase para acreditar que trata-se da obra de um único diretor.
Cloud Atlas não é um filme fácil de se assistir, principalmente porque as seis histórias citadas não seguem uma sequência específica. Você pode por exemplo, estar assistindo a uma das histórias no futuro e simplesmente ver um corte para um ponto no passado sem qualquer tipo de explicação. Cabe ao expectador perceber qual a relação entre uma cena e outra, e acredite, existem relação sim.
A questão da evolução do indivíduo nas reincarnações é mais acentuada nos personagens que Tom Hanks interpreta. Ele evolui de um médico que envenena um paciente para roubar seu baú com moedas de ouro, até um pastor de cabras altruísta que descobre finalmente o valor de defender as pessoas que ama sem importar-se consigo.
Já os personagens interpretados por Hugh Grant e Hugo Weaving simplesmente não evoluem, ao contrário involuem.
As histórias em si só servem de pano de fundo. A questão central gira em torno das atitudes que os seres humanos tomam e suas consequências. Não há ninguém inteiramente bom, mas sim, pessoas que melhoram e pessoas que estão satisfeitas como são.
Existe um relacionamento homossexual neste filme. Acredito que ele foi posto ali justamente para chocar a platéia, ou talvez por vontade de um dos irmãos Wakowski que resolveu virar irmã Wakowski. Indiferente do motivo, percebi que a platéia começou a reclamar: "Filme de viado", "Olhas as bichinhas se beijando" e coisas do tipo podiam ser ouvidas. longe de mim querer dizer o que é correto em termos de comportamento sexual, contudo é claro perceber que o preconceito está lá, inerente ao ser humano. O interessante é que se você tentar assistir sem se importar que são dois homens se beijando, perceberá que é a história de amor mais verdadeira de todas as seis. Acredito que tenha sido necessária muita coragem por parte dos diretores e roteiristas ao abordarem o tema amor de maneira tão atípica. Considero mais um ponto positivo para o filme que aliás, tem histórias de amor heterossexual também.
O interessante é perceber que a pressão que este filme deve ter sofrido de seus financiadores para gerar quantias vultosas de bilheteria não influenciou em nada a ideia de seus idealizadores, acredito que o que está na tela foi feito para agradar ou não, mas foi feito da maneira que deveria ser, da maneira que foi pensado para ser.
O filme, ao meu ver tem um único ponto negativo. Em tempos de internet e câmeras digitais que filmam em alta definição fica complicado entender a estratégia dos distribuidores que ainda teimam por lançamentos com datas distintas em diversos países. Depois reclamam de pirataria. Em alguns mercados o filme foi lançado em 26 de outubro do ano passado enquanto aqui no Brasil, por exemplo, em 11 de janeiro.
Estou realmente surpreso com este filme. Após as bombas de Prometheus e do Hobbit não seria justo ir ao cinema para perder tempo de novo. Comecei 2013 bem no cinema.
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