domingo, 21 de novembro de 2010

O primeiro amor a gente nunca esquece

Eu tinha sete anos e me lembro o quanto ela era bonita naquele vestido amarelo com laço também amarelo no cabelo. Foi a primeira vez até então que eu havia sentido aquele sentimento de admiração por alguém. Me lembro que a professora pedia para que quem terminasse a lição primeiro ajudasse aqueles que estavam com dificuldade. Eu nada bobo sempre ficava para trás para que ela, com aquele vestido amarelo e laço também amarelo no cabelo sentasse ao meu lado e me explicasse do jeito que ela sabia a tarefa. Meu coração palpitava, eu não entendia nada do que ela falava só sabia de uma coisa: ela estava alí ao meu lado.
O tempo ia passando e os anos na escola também, e eu, claro, sempre mais apaixonado. Mudamos de sala, cada um em uma ,e o fato de vê-la apenas na entrada, no intervalo e na saída da escola me incomodava. Sempre que podia passava na frente da sala dela e do lado de fora da porta a procurava com os olhos. Quando eu a via, sorria e um sorriso de retribuição via surgir daquele rosto que para mim era o rosto mais bonito que havia na face da terra.
Nos meus sonhos imaginava-me de mãos dadas com ela desfilando pelo refeitório da escola. Aquele era meu mundo, e o mundo dela também. Na realidade, tinha receio e até certo ponto vergonha que meus colegas descobrissem que eu gostava de alguém.
Crescemos mais um pouco. Nós tínhamos treze anos e ela parecia ainda mais linda para mim. Ela não usava mais aquele vestido amarelo com laço amarelo no cabelo de outrora. Ela agora era uma mocinha metida em uma calça jeans, com tênis no pé e aquela camiseta do uniforme da escola. Sempre comunicativa, tinha muitas amizades. E bonita como era, despertava paixões nos outros também.
Eu por minha vez, acanhado e pouco confiante, com uma voz que ainda não queria definir-se como grave ou aguda decidi: Ela haveria de conhecer aquele amor imenso que eu guardava a tantos anos. Ela haveria de saber o quão importante era para mim. Eu estava decidido, ela seria minha namorada. Pedi a uma amiga que tinhamos em comum que dissesse a ela que um garoto queria falar-lhe ao final do intervalo atrás da quadra de futebol. Lá eu estava e lá vinha ela. Linda e sorrindo ao me ver. Ah aquele sorriso! Tão lindo e tão intimidador fez-me ficar acuado. Eu olhava para ela e simplesmente as palavras não saiam. Estava eu ali ao lado dela como antes e como antes meu coração batia tão forte que as únicas palavras que conseguiram sair da minha boca foram: Eu gosto de você.
Naquele momento eu aprendi duas coisas sobre a vida. A primeira é que é difícil ouvir um não de alguém que se ama e a segunda é que as mulheres, não importa em qual idade ou em qual fase da vida sempre serão mais maduras que nós homens.
Ela me disse não e meus olhos encheram d’água. O mundo da forma como eu conhecia havia desabado sobre mim pela primeira vez. Eu pensava que bastaria contar-lhe sobre meu amor que a mágica aconteceria, que ela por mim também se apaixonaria e que a partir daquele momento seríamos felizes para sempre. Mas não foi o que aconteceu. Ela, sempre carinhosa e entendendo o que eu sentia, me abraçou e deu um beijinho no meu rosto. E com uma frase clichê e nada confortadora disse que nós nos conhecíamos desde muito cedo e que para ela eu era como um irmão. Ela me abraçou de novo e me deixou lá sozinho.
Chorei, chorei muito, eu aos treze anos me sentia um rapazinho, queria ser um homenzinho, mas chorei como a criança que ainda era. Eu não tinha maturidade para lidar com aquilo. Voltei para sala e não tive interesse pelo resto da aula. Ao chegar em casa não sentia fome, minha mãe estranhou. Deitei na cama e chorei mais um pouco. Ela não me amava.
Os dias passaram, aí vieram semanas, meses e o ano acabou. E como o ano, algo em mim havia acabado também. Estavamos na oitava série. Eu a via na escola e ela sorria para mim. Eu retribuia com outro sorriso mas não era igual antes. Me sentia seco, vazio. Aquele “não” marcou de certa forma minha entrada na vida adulta por assim dizer. Me interessei por outra garota mas não foi da mesma forma então a deixei. Soube de uma outra garota que por mim havia se interessado. Nos conhecemos, ficamos, mas não sentia nada por ela. Passei a achar que não amaria mais ninguém.
Mais um ano passou. Mudei de escola no colégio, fui estudar em outra cidade. Lá conheci muitas outras pessoas e me relacionei com outra garota e depois com outra e outra e quando me dei conta, não sentia mais nada pela menina de calça jeans com tênis no pé e camiseta de escola.
Me tornei adulto e a forma de me relacionar amadureceu também. Hoje eu amo e sei que sou amado, mas jamais esquecerei daquele que foi o sentimento mais puro e verdadeiro que tive: O meu primeiro amor.
É, não foi bem assim que aconteceu comigo!

Nenhum comentário: